ENTENDA POR QUE O ROMBO DA AMERICANAS IMPACTOU FUNDOS DE RENDA FIXA



Alocação em debêntures da varejista prejudicou rentabilidade até de fundos classificados como de baixo risco, devido à marcação a mercado.

O anúncio da Americanas (AMER3) de que encontrou em uma análise preliminar “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões em seu balanço não refletiu de forma negativa somente no desempenho das ações da empresa – que acumulavam queda em torno de 85% desde o anúncio do rombo. A rentabilidade de alguns fundos de renda fixa que possuíam ativos da empresa também foi impactada e pegou investidores de surpresa.

Um dos exemplos mais comentados foi o “Nu Reserva Imediata”, do Nubank (NUBR33). O rendimento deste fundo estava negativo em 0,26% do início de janeiro até a última quarta-feira (18). Foi o menor retorno registrado até então. Já nos últimos 12 meses até a mesma data, o fundo rendia 12,69%. Em relação ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), índice de referência no mercado, a rentabilidade estava em 51% no dia 18 de janeiro de 2023.

O rombo contábil da Americanas acabou refletindo no desempenho do fundo do Nubank pelo fato de ele ter uma pequena parte de seu patrimônio alocada em debêntures, que são títulos de dívida ligados a empresas privadas, como era o caso da varejista.

Nubank/Divulgação
Crédito: Divulgação
Assim, com incertezas devido à crise na Americanas, o valor deste título de dívida foi impactado pela marcação a mercado dos papéis – já que investidores passaram a exigir juros mais altos para emprestar dinheiro para a varejista. Dessa forma, a desvalorização do título impactou negativamente o patrimônio do cotista. É o chamado risco de mercado, que é a possibilidade de preços de ativos variarem de acordo com o comportamento do mercado. 

Nova regra de marcação a mercado

A marcação a mercado é um processo de precificação diária, ou seja, todos os dias acontece uma oscilação nos valores dos ativos, tanto para cima quanto para baixo, em meio ao processo de negociação.

A partir de janeiro de 2023, passou a valer uma nova regra de marcação a mercado. A Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) passou a exigir que as corretoras mostrem aos clientes o preço real de mercado dos títulos públicos federais, debêntures e certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e do agronegócio (CRAs).

Anteriormente, as instituições informavam os investimentos na “curva”, ou seja, a rentabilidade teórica contratada na compra do título, sem deixar em evidência as oscilações sofridas pelas aplicações no dia a dia.

Agora, o valor real de quanto o investidor embolsaria se vendesse o título passa a ser informado nas plataformas das corretoras, o que não ocorria anteriormente.

Como funciona o fundo do Nubank
O “Nu Reserva Imediata“, do Nubank, tem mais de 1,2 milhão de cotistas e R$ 2,3 bilhões em patrimônio. De acordo com a NuInvest, trata-se de um fundo de investimentos de baixo risco, alta liquidez e aplicação mínima de R$ 1. 

“É um fundo DI, ou seja, composto por títulos de renda fixa atrelados à taxa CDI e à taxa Selic, o que o torna indicado para investidores que não querem correr muitos riscos e com uma expectativa de retorno melhor que da poupança”, explica a apresentação do fundo pela corretora.

Segundo informações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o limite do fundo Nu Reserva Imediata para aplicações em crédito privado é de até 50% da carteira. Em dezembro de 2022, o fundo possuía 26,83% da sua carteira em debêntures. Pelo menos 0,9% dessa parcela estava atrelada a títulos de dívida da Americanas.

A analista de ações da Nord Research, Danielle Lopes, explicou em relatório que a carteira do fundo Master do Nu Reserva Imediata continha duas debêntures de Americanas: LAMEA7 e LAMEA4.

“Os gestores tinham liberdade para alocar recursos da melhor forma que achavam, dentro do seu mandato, no entanto, tomaram mais riscos para rentabilizar um pouco acima do CDI”, diz Lopes.

O que diz o Nubank
Em nota, a Nu Asset Management, gestora de fundos de investimentos do Nubank, afirmou que o fundo de renda fixa “Nu Reserva Imediata” possui estratégia desenhada para ser uma opção de baixo risco e alta liquidez, e busca performance acima do CDI ao longo do tempo. 

Ainda de acordo com a gestora, trata-se de um fundo de renda fixa com grau de investimento, com rentabilidade nominal positiva de 2,72% nos últimos 90 dias, e que segue trajetória de rentabilidade de longo prazo, apoiada pela diversificação de investimentos.

“Assim como dezenas de fundos no mercado com o mesmo perfil, o Nu Reserva Imediata também investe em ativos de crédito privado, dentro de um limite regulatório. A parcela de investimento em debêntures das Lojas Americanas, historicamente avaliada como Triple A por diferentes casas de rating, já foi revista pela Nu Asset Management”, informou em nota a Nu Asset Management.

Outros fundos impactados
Levantamento feito pelo TradeMap revelou que fundos com eventual posição nos ativos da Americanas (ações, posição alugada ou debêntures) entre os meses de setembro e dezembro de 2022 perderam R$ 4,2 bilhões de patrimônio.

Para o levantamento, foram considerados somente fundos que tiveram rentabilidade negativa no dia 12 de janeiro de 2023, um dia após o anúncio feito pela varejista.

O TradeMap destaca, no entanto, que fundos podem ter descontinuado a posição nos papéis entre setembro de 2022 e janeiro de 2023, e que o levantamento não é 100% assertivo, tendo em vista que as carteiras podem estar fechadas nos últimos três meses conforme determina a regulamentação da CVM.

Confira os 20 fundos com posição em Americanas que sofreram o maior recuo de patrimônio no dia 12 de janeiro de 2023, segundo o TradeMap:


Risco para debêntures de Americanas?
A varejista entrou com pedido de tutela de urgência cautelar na 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro. A solicitação foi acolhida pelo juiz Paulo Estefan na última sexta-feira (13).

A empresa alegou que a correção das inconsistências contábeis, com valor de cerca de R$ 20 bilhões, levará à revisão dos resultados financeiros de anos anteriores e que o grau de endividamento e seu capital de giro serão alterados. De acordo com o documento judicial, o montante de dívidas pode chegar a R$ 40 bilhões.

A decisão judicial favorável protege a empresa por 30 dias contra vencimento antecipado de dívidas, prazo que a varejista poderá usar para obter um acordo com credores ou pedir uma recuperação judicial.

De acordo com o fato relevante da última terça-feira (17), assinado pelo diretor presidente, João Guerra, a Americanas deixou de pagar os juros remuneratórios da 17ª emissão de debêntures, justificando a decisão favorável obtida na justiça. O pagamento estava previsto para ser realizado na segunda (16).

“Desse modo, tendo em vista o disposto na decisão proferida pelo juízo da 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, encontra-se suspensa a exigibilidade dos juros remuneratórios previstos na cláusula 4.2.2 da escritura da 17ª emissão de debêntures de emissão da Companhia”, apontou a companhia em comunicado ao mercado.

Onde investir a reserva de emergência?
Para a analista de ações da Nord Research, Danielle Lopes, a reserva de emergência deve ser investida nas opções mais conservadoras e que a mais comum é o Tesouro Selic, que permite aplicações a partir de R$ 30.

“O investidor pode colocar as suas economias, as que são necessárias, em uma rentabilidade mais estável, algo que seja 100% investido em títulos do Tesouro Direto. Além do Tesouro Selic, outras opções são fundos de investimento que tenham estratégias de investir somente em Tesouro (é possível checar essa informação nas lâminas do fundo) e Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) de grandes bancos com liquidez diária, que paguem pelo menos 100% do CDI”, recomenda a analista.

Igor Cavaca, head de gestão de investimentos na Warren, explica que um fundo de reserva de emergência deve ter duas características importantes: segurança e liquidez. 

“É a parcela de patrimônio que deve ser rapidamente resgatada em situações de emergência e, de preferência, em ativos de baixíssimo risco para que consiga sacar o capital total, como títulos do tesouro atrelados a CDI. Dado o cenário atual, entendo que o investidor deve estar em produtos que aloquem exclusivamente em títulos do Tesouro ou, no máximo, em ativos bancários de grandes bancos, com rentabilidade atrelada ao CDI”, orienta Cavaca.

O head de gestão de investimentos na Warren alerta, no entanto, que produtos que apresentam rentabilidade muito acima do CDI, em geral, carregam um maior risco de crédito por conterem outras classes de ativos na carteira, mesmo que em percentuais baixos, e podem sofrer impactos decorrentes de eventos como o da Americanas.

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